sábado, 30 de janeiro de 2010

1. Guerra do contestado....vamos contar essa história

Guerra do contestado....vamos contar essa história

>vamos falar sobre esse fato;
.
Esclarecer dúvidas....
.
A Guerra do Contestado foi um conflito armado entre a população cabocla e os representantes do poder estadual e federal brasileiro travado entre outubro de 1912 a agosto de 1916, numa região rica em erva-mate e madeira disputada pelos estados brasileiros do Paraná e de Santa Catarina.
>
Originada nos problemas sociais, decorrentes principalmente da falta de regularização da posse de terras, e da insatisfação da população hipossuficiente, numa região em que a presença do poder público era pífia, o embate foi agravado ainda pelo fanatismo religioso, expresso pelo messianismo e pela crença, por parte dos caboclos revoltados, de que se tratava de uma guerra santa.
>
ANTECEDENTES
Ação judicial de Santa Catarina contra o Paraná em 1900, por limites
Decisões judiciais do STF pró-Santa Catarina em 1904, 1909 e 1910
Revolta do ex-maragato Demétrio Ramos na zona do Timbó, em 1905 e 1906
Construção da Estrada de Ferro São Paulo–Rio Grande, de 1908 a 1910
Criação dos municípios de Canoinhas, Itaiópolis e Três Barras em Santa Catarina, e de Timbó no Paraná.
Instalação da Southern Brazil Lumber & Colonization em Calmon (1908) e em Três Barras (1912)
Construção do Ramal de São Francisco, a partir de 1911
1911: Revolta do ex-maragato Aleixo Gonçalves de Lima em Canoinhas
1910-1912: Questão de terras da fazenda Irani e da Cia. Frigorífica e Pastoril
Combate no Banhado Grande, em Irani, em outubro de 1912
1911: Escrituração de glebas de terras devolutas do Contestado para a EFSPRG
Disputas pela exploração dos ervais - concessões de Estados e Municípios
Vendas suspeitas de terras no Contestado, do Estado para especuladores – bendegós
Disputas eleitorais entre os coronéis da região pelos domínios políticos nos municípios
Espírito guerreiro do Caboclo Pardo (Revolução Farroupilha e Revolução Federalista)
Religiosidade: messianismo, misticismo e fanatismo da população cabocla
Ideologia nacionalista – civilismo na República – construção de exército
Para entender-se bem a guerra sertaneja , é preciso voltar um pouco no tempo e resgatar o valor da figura de três monges da região. O primeiro monge que galgou fama foi João Maria, um homem de origem italiana, que peregrinou pregando e atendendo doentes de 1844 a 1870. Fazia questão de viver uma vida extremamente humilde, e sua ética e forma de viver arrebanhou milhares de crentes, reforçando o messianismo coletivo. Sublinhe-se, porém, que não exerceu influência direta nos acontecimentos da Guerra do Contestado que ocorreria posteriormente. João Maria morreu em 1870, em Sorocaba, Estado de São Paulo.
João Maria é o nome pelo qual ficaram conhecidos vários monges que passaram pela região sul do Brasil no final do século XIX e primeira metade do século XX. Tinham o caráter de curandeirismo ou de messianismo.
>
Apesar de serem três, o povo, através de suas lendas e folclore, uniu-os em um único, popularmente conhecido como São João Maria, que era considerado, na época, o “monge dos excluídos”. Os dois estão historicamente unidos de tal forma, que muitas vezes se torna difícil separar os feitos e a vida de cada um. Os três tinham em comum o fato de terem vivido em épocas de grandes mudanças sociais, em que a assistência médica e o conhecimento tinham pouca penetração no interior do país, em que o aconselhamento embasado na religião, a cura através de ervas e águas, e os milagres eram os únicos recursos acessíveis a uma população carente e pouco assistida. A população humilde encontrava neles apoio e soluções para enfrentar a penúria e a desesperança.
>
João Maria D’Agostini
O primeiro deles, o monge João Maria d’Agostinho, era imigrante italiano, e residiu um tempo em Sorocaba (SP), mudando-se em seguida para o Rio Grande do Sul, onde viveu entre os anos de 1844 e 1848, nas cidades de Candelária, no morro do Botucaraí, e Santa Maria, no Campestre. Introduziu nessa região o culto a Santo Antão, que é considerado o “pai de todos os monges”, cuja festa continua até os dias atuais, comemorada em 17 de janeiro. A região do Campestre passou a ser chamada, desde então, de Campestre de Santo Antão. Sua prisão foi decretada em 1848, pelo General Francisco José d’Andréa (Barão de Caçapava), mediante o temor de levantes e concentrações populares que começavam a ser comuns naquela região, e o monge foi proibido de voltar ao Rio Grande do Sul. Refugiou-se na Ilha do Arvoredo (SC), depois na Lapa (PR), na serra do Monge, e em Lages (SC), desaparecendo em seguida, misteriosamente. Os historiadores defendem que o monge João Maria morreu em Sorocaba, em 1870.

João Maria de Jesus
O segundo monge, João Maria de Jesus, surgiu também misteriosamente, no Paraná e Santa Catarina, tendo vivido entre os anos de 1886 e 1908, havendo, na ocasião, uma identificação com o primeiro, de quem utilizava os mesmos métodos, com curas através de ervas, conselhos e águas de fontes. Acredita-se que seu verdadeiro nome seria Atanás Marcaf. Em 1897, diria: "Eu nasci no mar, criei-me em Buenos Aires, e faz onze anos que tive um sonho, percebendo nele claramente que devia caminhar pelo mundo durante quatorze anos, sem comer carne nas quartas-feiras, sextas-feiras e sábados, e sem pousar na casa de ninguem. Vi-o claramente[1]". Há controvérsias sobre seu desaparecimento, segundo alguns historiadores por volta de 1900, e segundo outros por volta de 1907 ou 1908. A semelhança entre os dois primeiros monges é tão grande, que o povo os considerava um só. Num dos retratos da época, considerado como sendo do santo, há a legenda “João Maria de Jesus, profeta com 188 anos[2]”

José Maria
O terceiro monge, José Maria, surgiu em 1911, em Campos Novos (SC), e foi, segundo alguns historiadores, um ex-militar. Segundo um laudo da polícia de Vila de Palmas, no Paraná, seu verdadeiro nome era Miguel Lucena de Boaventura, e era um soldado desertor condenado por estupro. Dizia ser irmão do primeiro monge e adotou o nome de João Maria de Santo Agostinho. Utilizava, também, os mesmos métodos de cura dos primeiros, com ervas e água, mas, ao contrário do isolamento de seus antecessores, organizava agrupamentos, fundando os “Quadros Santos”, acampamentos com vida própria, e os “Pares de França”, uma guarda especial formada por 24 homens que o acompanhavam. A região onde atuava era palco de disputas por limites e, sob a alegação de que o monge queria a volta da monarquia, foi pedida a intervenção do Governo Estadual de Santa Catarina, o que foi entendido como uma afronta pelo Governo do Paraná, que enviou uma força militar para a região. A força militar chefiada pelo coronel João Gualberto Gomes de Sá invadiu o “Quadro Santo” de Irani (SC), e morreram no combate tanto o monge João Maria quanto o coronel, o que determinou o fim do ciclo dos monges e a eclosão franca da Guerra do Contestado.

Lendas
Há muitas histórias sobre a origem do monge, todas de tradição popular. Uma delas refere que sua cidade de origem teria sido Belém, na Galiléia, e que abandonara a religião para se casar com uma moura e para combater o exército expedicionário francês. Sendo feito prisioneiro, após a morte de sua esposa fugiu e teve a visão do apóstolo Paulo, que o mandou peregrinar durante 14 anos (ou 40 anos, em outra versão) pelo mundo, retornando assim ao cristianismo.
Outra lenda refere que o monge teria sido um criminoso, que teria seduzido uma religiosa, a qual falecera na viagem para a América, e sua penitência seria vagar solitário pelos sertões.
Outra lenda defende que o monge era um apátrida, nascido no mar, de pais franceses, tendo sido criado no Uruguai.
Contam-se lendas, também, de que podia estar em dois lugares diferentes, podia estar orando em sua gruta e ao lado de um doente que invocava por ele; que podia ficar invisível aos seus perseguidores; que podia atravessar a pé sobre as águas dos rios; que suas cruzes cresciam 40 dias após o monge tê-las levantado; que o monge era imune aos índios e feras; que fazia surgir nascentes nos lugares onde dormia.
As curas são constantes em suas lendas. Teria feito muitas curas com infusões de uma planta chamada vassourinha e com rezas. Há uma lenda de que João Maria teria debelado uma epidemia de varíola na cidade de Mafra, na ocasião ainda um bairro pertencente ao município de Rio Negro, afastando a doença com rezas e com 19 cruzes plantadas como Via Sacra pela cidade. O monge João Maria teria chegado em Mafra em 1851 e encontrara a população sob o sofrimento da Guerra dos Farrapos e da epidemia de varíola. Recomendou que 19 cruzes (alguns historiadores defendem que seriam 14 cruzes) fossem erguidas entre a Capela Curada e a Balsa - Ponte Metálica. As tropas vindas do sul foram derrubando essas cruzes e, a única que sobrou foi a da Praça Hercílio Luz, cuja fixação foi em 30 de Junho de 1851 e representa a fé do catolicismo rústico do homem simples
da região. Ainda hoje existe essa cruz na praça de Mafra, conhecida popularmente como a “Cruz de São João Maria”, e que, segundo a lenda, não pode ser retirada, com o risco de causar a enchente do rio Negro, o qual separa as cidades vizinhas de Rio Negro e Mafra.
Há lendas de que o monge teria feito, também, diversas previsões, inclusive sobre os futuros trens e aviões: "Linhas de burros pretos, de ferro, carregarão o pessoal" e "gafanhotos de asas de ferro, e estes seriam os mais perigosos porque deitariam as cidades por terra".
Há também diversas lendas sobre seu desaparecimento. Conta uma delas que ele terminou sua missão no morro do Taió (SC), outra que morreu de velhice em Araraquara (SP), ou que foi encontrado agonizante próximo aos trilhos da estrada de ferro perto de Ponta Grossa.
A crença mais difundida é, no entanto, que não teria morrido. Após jejuar por 48 horas no morro do Taió, o monge teria sido levado por dois anjos para o céu. Em outra hipótese, seu corpo teria se envolvido em luz tão forte que o fez desaparecer, deixando uma marca vermelha no chão, que os incrédulos confundiam com sangue.
Como ninguém conhecia ao certo a sua origem, como aparentava uma vida reta e honesta, não lhe foi difícil granjear em pouco tempo a admiração e a confiança do povo. Um dos fatos que lhe granjearam fama foi a presunção de ter ressuscitado uma jovem (provavelmente apenas vítima de catalepsia patológica). Supostamente também recobrou a saúde da esposa do coronel Francisco de Almeida, acometida de uma doença incurável. Com este episódio, o monge ganha ainda mais fama e credibilidade ao rejeitar terras e uma grande quantidade de ouro que o coronel, agradecido, lhe queria oferecer.
A partir daí, José Maria passa a ser considerado santo: um homem que veio à terra apenas para curar e tratar os doentes e necessitados. Metódico e organizado, estava muito longe do perfil dos curandeiros vulgares. Sabia ler e escrever e anotava em seus cadernos as propriedades medicinais das plantas encontradas na região. Com o consentimento do coronel Almeida, montou no rancho de um dos capatazes o que chamou de farmácia do povo, onde fazia o depósito de ervas medicinais que utilizava no atendimento diário, até horas tardias da noite, a quem quer que o visitasse.
Os confrontos se iniciam
Madeira, uma das riquezas exploradas nas margens da ferrovia do ContestadoApós a conclusão das obras do trecho catarinense da estrada de ferro São Paulo-Rio Grande, a companhia Brazil Railway Company, que recebeu do governo 15 km de cada lado da ferrovia , iniciou a desapropriação de 6.696 km² de terras (equivalentes a 276.694 alqueires) ocupadas já há muito tempo por posseiros que viviam na região entre o Paraná e Santa Catarina. O governo brasileiro, ao firmar o contrato com a Brazil Railway Company, declarou a área como devoluta, ou seja, como se ninguém ocupasse aquelas terras. "A área total assim obtida deveria ser escolhida e demarcada, sem levar em conta sesmarias nem posses, dentro de uma zona de trinta quilômetros, ou seja, quinze para cada lado". Isso, e até mesmo a própria outorga da concessão feita à Brazil Railway Company, contrariava a chamada Lei de Terras de 1850 . Não obstante, o governo do Paraná reconheceu os direitos da ferrovia; atuou na questão, como advogado da Brazil Railway, Affonso Camargo, então vice-presidente do Estado .
Esses camponeses que viram o direito às terras que ocupavam ser usurpado , e os trabalhadores que foram demitidos pela companhia (1910), decidiram então ouvir a voz do monge José Maria, sob o comando do qual organizaram uma comunidade. Resultando infrutíferas quaisquer tentativas de retomada das terras - que foram declaradas "terras devolutas" pelo governo brasileiro no contrato firmado com a ferrovia - cada vez mais passou-se a contestar a legalidade da desapropriação. Uniram-se ao grupo diversos fazendeiros que, por conta da concessão, estavam perdendo terras para o grupo de Farquhar, bem como para os coronéis manda-chuvas da região.

2 comentários:

  1. Parabéns!!

    Texto muito bem redigido e gostoso de ler.
    Vc é um ótimo narrador.

    ResponderExcluir
  2. ha!ha!ha!ainda estou aprendendo,mas aprendo rápido....só espero que o pessoal tenha assim,bastante paciência comigo!
    Afinal a um ano eu apenas escrevia a caneta e a lápis.
    Mas estou gostando muito!!
    Obrigado.

    ResponderExcluir